segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

PRÉ CONCEITOS


Acredito que não sou uma pessoa preconceituosa, aprendi (depois de algum tempo) a respeitar as pessoas do jeito que elas são, com suas crenças, opções sexuais, forma de levar a vida. Mas tem duas coisas que sempre me deixavam meio incomodada, uma é tatuagem, ficava pensando, o que leva uma criatura a marcar seu corpo para sempre? Que espécie de rebeldia é essa? E a outra coisa que me fazia meio que torcer o nariz é essa música que chamam de sertaneja, ou regional, seja lá como for, afinal música sertaneja pra mim era Sérgio Reis, Milionário e José Rico e outros contemporâneos destes.
Mas como a vida nunca deixa de ensinar as lições que precisamos aprender, também a mim ela ensinou.
Um dia desses zapeando, parei em um canal de tv em que tem um programa chamado Troca de Família, é mais ou menos assim, duas mães trocam de família por um período de uma ou duas semanas (não tenho certeza), e uma fica vivendo a vida da outra durante esse período. O programa que assisti, uma mãe de uma família de classe média de São Paulo veio viver na casa de uma família de classe menos abastada em Viamão/RS, e a mãe de Viamão foi para São Paulo.
O pai da família de Viamão, era um sujeito grandão, cabelo raspado, com o corpo e rosto inteiramente tatuados e com uma moto enorme daquelas tipo um triciclo, parecia aqueles bandidões de filmes americanos. Pois no decorrer do programa vi que esse pai de família era um doce de pessoa, simpático, agradável, educadíssimo, bem humorado, uma pessoa totalmente do bem, que não tinha vergonha de chorar quando se emocionava, ele tinha um grupo de amigos motoqueiros que faziam um belo trabalho social na cidade de Viamão, não é preciso dizer que a mãe da família de São Paulo, voltou para a sua cidade encantada com a acolhida que teve e é claro com uma tatuagem. Entendi com este homem que a tatuagem para ele era uma forma de arte, além de ser o seu ganha pão (ele é tatuador) e que o que faz um ser humano ser bacana, não é o fato de ele ter ou não tatuagens e sim a forma como ele conduz a sua vida.
E em relação a música sertaneja, tenho adorado ouvir Victor e Léo, confesso que antes das músicas o que me chamou a atenção foi a beleza dos dois, são lindos, aí comecei a prestar atenção na letra das músicas e são letras simples, mas cheias de sentimento, que tocam o nosso coração, tenho ouvido direto.
Então que nos desarmemos de nossas concepções meio arcaicas e como dizia a minha Vó Dina, não dá pra falar nunca “dessa água não beberei

FILHOS





Vinicius de Morais falava em um poema “ (...)Filhos, melhor não tê-los (...)”, e foi pensando sobre isso que resolvi escrever...

Hoje li no jornal a história de um menino que se suicidou em 2006, com 16 anos, aqui em Porto Alegre. A reportagem falava que esse menino vivia totalmente isolado (do mundo real) em seu quarto, vivia no mundo virtual da Internet e pelo que falava a reportagem era um gênio, falava inglês e francês, sendo que usava praticamente só o inglês para se comunicar com os amigos virtuais, e, tinha um grande talento musical, talento tão grande, que após a sua morte, seu pai encontrou várias músicas de sua autoria no PC e resolveu lançar um CD, com essas composições inéditas, tinham músicas suas que tocavam em baladas na Europa.
Segundo a opinião do pai desse garoto, ele não agüentou a pressão do mundo real, devia ter uma sensibilidade tão grande que o levou a desistir, fugir da pressão que é habitar esse nosso planetinha.
Fico então pensando na grande responsabilidade que nós pais temos enquanto educadores e co-formadores de seres que estão sob a nossa tutela. É fundamental estarmos “de olho” nas mínimas atitudes e gestos de nossos filhos para tentarmos entender o que acontece com eles, já que na maioria das vezes não dividem suas histórias conosco.
Muitas vezes também, com a melhor das intenções, acabamos levando nossos filhos para caminhos que não são os mais indicados para eles e depois pode ser tarde para trazê-los de volta.
Dora Incontri, uma educadora espírita, autora de vários livros sobre educação fala que ás vezes nossos filhos demonstram talento para determinada atividade e nós acabamos incentivando-os a colocá-las em prática e pode ser que tenha sido justamente por isso que eles tenham perecido em outra vida , e vindo nessa (vida) para resgatarem e fazer de outro modo a sua caminhada, e nós, pais, sem nos darmos conta acabamos empurrando-os para repetirem a mesma história.
E como filhos não vem com bula ou manual de instruções, resta-nos o bom senso, a ética, e para quem acredita a Fé em Deus como auxiliares na tarefa de educar, é uma pena que os pais desse menino que se suicidou não tenham conseguido fazer parte do seu mundo, auxiliando-o a resolver os seus conflitos, a enfrentar a sua caminhada com dores e alegrias para que quem sabe ele próprio pudesse estar hoje lançando o seu CD, e não recebendo uma homenagem póstuma.
E a despeito do Vínicius ele também diz “(...)que coisa linda que os filhos são”, é verdade, então que Deus nos proporcione sabedoria suficiente para encaminharmos bem estes irmãos que estão sob nossa guarda temporária.



Jane Macedo (janemacedo.poa@hotmail.com)

Porto Alegre/RS

O X da educação


Muito tem se falado sobre o problema da indisciplina na sala de aula, na falta de respeito dos alunos em relação aos professores, das agressões físicas e psicológicas sofridas por estes. Também se fala muito nas “famílias desestruturadas”, que são essas uma das causas dessa situação difícil.
A leitura que consigo fazer sobre esta discussão é a seguinte: o professor é a autoridade máxima na sala de aula e portanto não pode ser questionado ou desafiado, isso é falta de respeito. Criança pobre é sinônimo de marginal e com certeza originada de família desestruturada.
Agora pergunto: o que é falta de respeito? Um aluno desatento, que faz brincadeiras enquanto o professor fala? Que não tem o comportamento esperado pelo professor? Mas por que será que esse aluno tem essa atitude em sala de aula? Será que essa aula tem a ver com a sua realidade, será que o professor conhece um pouco da história de seus alunos e consegue preparar uma aula que desperta o interesse destes ou usa o mesmo plano de aula de dez anos atrás (afinal são todos iguais mesmo)?
O que é uma família desestruturada? Será que os “mestres”, conseguem entender que as famílias se estruturam umas de forma diferente das outras? Que é raro a família constituída de papai, mamãe e filhinhos?
O que eu vejo é um grande preconceito com crianças e jovens da rede pública (estadual), professores desmotivados, que não tem o ofício de professor como um sacerdócio e sim apenas como uma forma de sustento, é claro que existem exceções e essas palavras não servem aos professores conscientes de sua missão enquanto colaboradores na formação de seres humanos.
Trabalhei durante alguns anos com crianças que não tinham “famílias desestruturadas”, elas simplesmente não tinham família nenhuma, e sim a rua, como lar, mas no momento que essas crianças se sentiam enxergadas, tratadas com respeito e dignidade, acolhidas no sentido real da palavra acolhimento, a transformação era imediata, nunca fui desrespeitada por nenhum deles, apenas recebi abraços, beijos, desenhos e frases de afeto. Cheguei a conviver inclusive com jovens infratores, que já haviam cumprido medidas sócio-educativas na FASE e mesmo estes jovens considerados violentos quando eram tratados como gente e não como marginais, se transformavam em outros.
Acredito que uma das soluções para todas essas dificuldades é os professores olharem para dentro de si e pensarem: “o que estou fazendo aqui”, “o que espero do meu aluno”, “o que o meu aluno tem condições de me dar”, penso que essa pequena reflexão já é um começo, aliado a um desarmamento por parte dos professores em relação aos alunos que recebem em suas salas de aula, que estes não sejam olhados como marginais, mal educados e sim como seres humanos, a maioria com histórias de vidas muito difíceis e que se em vez de um professor que fica lhe cobrando coisas, tiver ao seu lado um amigo que se preocupa em saber como ele está, que pergunte se pode lhe ajudar de alguma forma, que o “ouça” de verdade, com certeza também irá responder de uma forma pacífica.
É claro que junto a isso some-se uma boa reciclagem e formação dos educadores, investimentos na estrutura física das escolas, salário digno aos professores, atividades culturais e esportivas no turno inverso ao da aula, aproximação da família à escola.
Existem muitas escolas da rede municipal que tem excelentes trabalhos em relação á esse tema, quem sabe poderia se estabelecer uma parceria com a rede estadual para a troca de experiência?
Mas não tenho a menor dúvida que um dos X da questão é uma palavra só: amor, está faltando amor por crianças e jovens e principalmente amor pela profissão de professor.



Jane Macedo – Porto Alegre/RS
janemacedo.poa@hotmail.com