quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre Tênias e Centopéias






“Bom professor é aquele que ensina e bom aluno é aquele que aprende”;
“Bom professor é aquele que em qualquer nível, exigindo disciplina, aplicando o método adequado a cada matéria e utilizando os recursos necessários alcança seu objetivo”;
“Ensinar é sinônimo de disciplina exigida e conteúdo transmitido”;
“É possível que meus alunos não tenham aprendido muito comigo. Mas é absolutamente certo que eu nunca aprendi nada com eles. Meus alunos nunca me ensinaram nada”.

Não eu ainda não enlouqueci, pelo menos não totalmente. As frases acima não são minhas e sim de um professor (??) e foram publicadas Jornal Zero Hora, em uma página que expressa a opinião do leitor, no dia 02/02/2010.

Fiquei chocada ao ler tal texto, sabendo que ele partiu de alguém que se intitula professor, sim se intitula, porque na minha opinião o ofício de professor vai muito além de títulos acadêmicos.

E as frases acima citadas são uma pequena parte, pois o autor do texto sugere que professores que dizem aprender com seus alunos não merecem sequer ser chamados de quadrúpedes e merecem sim o título de centopéias que são seres rastejantes.

É claro que acredito que um professor não irá aprender matemática, física ou qualquer outra disciplina com seus alunos, afinal desse conhecimento o professor é o detentor.

Mas penso que bons professores aprendem a todo instante com seus alunos, colegas, amigos, familiares, afinal antes de ser professores são seres humanos e aprender é uma condição inerente a raça humana e aquele que acha que já aprendeu tudo é um pré-destinado ao fracasso como profissional e como ser humano.

Paulo Freire na sua obra Pedagogia do Oprimido nos diz: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

É essa a minha crença. Acredito que ensinar é uma troca constante entre educador e educando, mediatizados como diz Freire pelo mundo, ou seja, por todas as questões sociais, econômicas e espirituais que envolvem os dois.

Ninguém é dono da verdade, ninguém possui todo o saber. Aprender é uma condição dos seres pensantes, só não aprende e muda de idéia quem não pensa, não reflete, e quem está nessa condição não pode se intitular professor.

Ainda citando Paulo Freire na mesma obra citada anteriormente ele diz: “Como posso dialogar, se parto de que a pronúncia do mundo é tarefa de homens seletos e que a presença das massas na história é sinal de sua deterioração que devo evitar?” ou ainda “Como posso dialogar, se alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro e nunca em mim?”

Ou seja, se eu me considero um ser seleto escolhido pelos Deuses para subir em um pedestal e “ensinar” não vou conseguir dialogar e onde não existe diálogo não existe aprendizagem e esse tipo de professor não merece nem o título de centopéia, talvez ainda esteja na condição de uma simples Tênia, para chegar a centopéia levará muito tempo, afinal rastejar requer uma certa inteligência.