sábado, 20 de agosto de 2011

Novelas e (in)justiças



Confesso que sou noveleira, acredito que é um hábito que trouxe dos tempos do interior. Cidade pequena sem maiores opções de lazer, o que nos divertia era a televisão. Programa do Chacrinha, Moacir Franco, Jô Soares (Planeta dos Homens), A Família Robson -vou parar por aqui senão vão pensar que tenho 300 anos- mas o bom mesmo eram as novelas, das seis, sete, oito e dez. As das dez, só podíamos ver escondido dos pais porque tinham cenas calientes, igual as das novelas das seis hoje em dia.

O tempo passou, muitas mudanças,visões de mundo diferentes, mas o hábito noveleiro continua. Só que ás vezes assistimos uma novela durante meses e o final é broxante. O termo é esse mesmo, afinal não é isso que acontece quando se planeja toda uma história com um par romântico, todo um ritual, mil expectativas e na hora H não é nada daquilo? Pois é, a maioria das novelas é assim.

Só que com Gilberto Braga no final de Insensato Coração ontem, foi possível lavar a alma, ele não só não deixou nada a desejar como superou as expectativas, adorei o último capítulo, tanto que vou ver hoje de novo.

Penso que o que me deixou tão contente e imagino que a maioria dos brasileiros noveleiros também, é que foi feito justiça. Vivemos em um mundo onde as injustiças se espalham, estampam os jornais, a TV e o rádio diariamente.

Enquanto pessoas morrem nas filas dos hospitais, são vítimas de balas perdidas e de motoristas bêbados. Enquanto crianças e jovens não tem direito a uma educação decente, idosos não podem usufruir de uma aposentadoria digna depois de uma vida inteira de contribuição. Enquanto mães de família são obrigadas a deixarem seus filhos sós em casa e catarem papel na rua para que eles não morram de fome.

Enfim, enquanto tantas outras injustiças se proliferam nesse País, assistimos a uma corja de políticos, roubando dinheiro de merenda escolar, enchendo seus bolsos com milhões e milhões que roubam descaradamente da população sem punição nenhuma, debochando da cara do povo. Na realidade esses políticos são os grandes bandidos, assassinos do nosso país, pois se não fossem os grandes ladrões que são, sobraria dinheiro para uma educação decente, para escolas de qualidade, para médicos e hospitais em quantidade suficiente para todos os brasileiros.

E depois de todos esses crimes, esse bando de corruptos está por aí, impune, graças a um sistema de (in)justiça que favorece os delinquentes.

Então o final de Insensato Coração ontem, pelo menos na ficção conseguiu matar a sede de justiça que temos e que deixa a nossa garganta seca. Cortez na cadeia, Paula fazendo serviço comunitário, Eunice servindo cafezinho e o grande vilão sendo jogado do alto de um prédio e o seu sangue escorrendo pelo chão. Por melhores que tentemos ser, por mais conhecimentos da espiritualidade que tenhamos, vamos ser honestos, quem de nós nunca imaginou um político safado nessa condição?

Sei que essa corja até pode escapar da justiça dos homens, mas sem dúvida já foi condenada e responderá a justiça divina, mas que é bom imaginar, ah isso é.

E com o capítulo final da novela ontem, nossa imaginação se tornou real, sem dúvida Gilberto Braga é um mestre no seu ofício e encerrou com chave de ouro mais uma novela das nove. Que venha a próxima.