segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O X da educação


Muito tem se falado sobre o problema da indisciplina na sala de aula, na falta de respeito dos alunos em relação aos professores, das agressões físicas e psicológicas sofridas por estes. Também se fala muito nas “famílias desestruturadas”, que são essas uma das causas dessa situação difícil.
A leitura que consigo fazer sobre esta discussão é a seguinte: o professor é a autoridade máxima na sala de aula e portanto não pode ser questionado ou desafiado, isso é falta de respeito. Criança pobre é sinônimo de marginal e com certeza originada de família desestruturada.
Agora pergunto: o que é falta de respeito? Um aluno desatento, que faz brincadeiras enquanto o professor fala? Que não tem o comportamento esperado pelo professor? Mas por que será que esse aluno tem essa atitude em sala de aula? Será que essa aula tem a ver com a sua realidade, será que o professor conhece um pouco da história de seus alunos e consegue preparar uma aula que desperta o interesse destes ou usa o mesmo plano de aula de dez anos atrás (afinal são todos iguais mesmo)?
O que é uma família desestruturada? Será que os “mestres”, conseguem entender que as famílias se estruturam umas de forma diferente das outras? Que é raro a família constituída de papai, mamãe e filhinhos?
O que eu vejo é um grande preconceito com crianças e jovens da rede pública (estadual), professores desmotivados, que não tem o ofício de professor como um sacerdócio e sim apenas como uma forma de sustento, é claro que existem exceções e essas palavras não servem aos professores conscientes de sua missão enquanto colaboradores na formação de seres humanos.
Trabalhei durante alguns anos com crianças que não tinham “famílias desestruturadas”, elas simplesmente não tinham família nenhuma, e sim a rua, como lar, mas no momento que essas crianças se sentiam enxergadas, tratadas com respeito e dignidade, acolhidas no sentido real da palavra acolhimento, a transformação era imediata, nunca fui desrespeitada por nenhum deles, apenas recebi abraços, beijos, desenhos e frases de afeto. Cheguei a conviver inclusive com jovens infratores, que já haviam cumprido medidas sócio-educativas na FASE e mesmo estes jovens considerados violentos quando eram tratados como gente e não como marginais, se transformavam em outros.
Acredito que uma das soluções para todas essas dificuldades é os professores olharem para dentro de si e pensarem: “o que estou fazendo aqui”, “o que espero do meu aluno”, “o que o meu aluno tem condições de me dar”, penso que essa pequena reflexão já é um começo, aliado a um desarmamento por parte dos professores em relação aos alunos que recebem em suas salas de aula, que estes não sejam olhados como marginais, mal educados e sim como seres humanos, a maioria com histórias de vidas muito difíceis e que se em vez de um professor que fica lhe cobrando coisas, tiver ao seu lado um amigo que se preocupa em saber como ele está, que pergunte se pode lhe ajudar de alguma forma, que o “ouça” de verdade, com certeza também irá responder de uma forma pacífica.
É claro que junto a isso some-se uma boa reciclagem e formação dos educadores, investimentos na estrutura física das escolas, salário digno aos professores, atividades culturais e esportivas no turno inverso ao da aula, aproximação da família à escola.
Existem muitas escolas da rede municipal que tem excelentes trabalhos em relação á esse tema, quem sabe poderia se estabelecer uma parceria com a rede estadual para a troca de experiência?
Mas não tenho a menor dúvida que um dos X da questão é uma palavra só: amor, está faltando amor por crianças e jovens e principalmente amor pela profissão de professor.



Jane Macedo – Porto Alegre/RS
janemacedo.poa@hotmail.com

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