sábado, 12 de dezembro de 2009

Divagando...


Trabalho em uma casa de acolhimento na zona sul de porto alegre, moram lá 11 meninos entre 12 e 18 anos que por vários motivos foram retirados de suas famílias para que pudessem manter sua integridade física e psicológica preservada, outros já moravam nas ruas antes de vir para nossa casa.
Essa casa é mantida por uma ONG não recebe repasses governamentais, apenas conta com a ajuda de amigos (pessoas físicas) e algumas empresas.
Mas, infelizmente ainda é uma parceria pequena que não permite maiores confortos aos guris, mas com a boa vontade de alguns as coisas vão se ajeitando.
Porém o que me levou a escrever essa reflexão foi uma situação que me deixou indignada. Outro dia os educadores resolveram fazer uma pequena confraternização com os guris, uma partida de futebol dos educadores contra os meninos, alugamos uma quadra e a idéia depois do jogo era levá-los a algum lugar para comer um lanche (um xis que eles adoram), perto da casa tem uma lanchonete com uma boa estrutura e que tem algumas filiais, fui até lá e pedi ao dono se ele poderia dar um desconto já que somos vizinhos e temos dificuldades financeiras, se o xis custava seis reais, quem sabe ele deixasse por cinco e que os guris pudessem levar refrigerante de litrão para diminuir o custo. A resposta foi um sonoro Não, mesmo eu me propondo a pagar adiantado.
Saí dali revoltada e pensando que se fosse eu no lugar daquele cidadão iria dar de graça o lanche para os guris, ou quem sabe cobrar o preço de custo, abriria mão do meu lucro uma vez na vida.
E assim como esse senhor a nossa sociedade está cada vez mais cheia de pessoas que conseguem olhar apenas para os seus umbigos, os outros que se danem, a dor dos seus semelhantes não os comovem, “eu e os meus tendo, o resto que se dane”. Enquanto imperar esse tipo de sentimento e atitude entre os seres humanos, a tendência é que aumente cada vez mais o número de grades em nossas casas, bem como os gastos com segurança, pois uma sociedade que não olha para os que sofrem, para os que não tiveram oportunidades, é uma sociedade que exclui e conseqüentemente ajuda a fabricar bandidos.
Ninguém me convence que uma criança que vive em um ambiente regrado, não interessa se com pais, avós, tios, que tem uma casa decente, boa alimentação, saneamento básico, escola de qualidade vai virar um marginal, duvido, com raras exceções, de vez em quando nos deparamos com essas exceções nos noticiários. Outro dia alguém me disse “tem que matar”, referindo-se a um pedinte na rua, eu perguntei: “você acha que ele teve alternativas, será que optou por essa vida?”. Se tem que matar o pedinte, o ladrão de galinhas, o que dizer então dos grandes ladrões, que roubam com o nosso aval (através do nosso voto) e que andam todos engravatados nos círculos do poder, esses senhores são os grandes assassinos do nosso povo, graças aos desvios de dinheiro que param em seus bolsos, cuecas e meias, milhares de brasileiros morrem na fila do hospital, deixam de freqüentar escola, são vítimas de bala perdida, enfim grandes tragédias urbanas que poderiam ser evitadas se tivéssemos governantes mais decentes. Eles até podem sair impunes graças as vistas grossas de seus comparsas, mas da justiça divina tenho certeza que não escaparão.
Mas o que eu quero dizer mesmos com todo esse desabafo, é que o natal está chegando e de repente parece que todo mundo é invadido “por uma onda de se tornar bonzinho”, lembram de olhar para os que precisam mais, levam bolinho no asilo, panetone no orfanato, e os outros onze meses do ano continuam olhando apenas para seus umbiguinhos.
Vamos procurar fazer com que esse espírito natalino possa pemanecer por mais tempo em nossas vidas e quando tivermos oportunidade não façamos como esse senhor dono da lanchonete, ajudemos, ajudemos sempre que formos chamados, não para sermos chamados de bonzinhos ou solidários e ficarmos com a consciência tranqüila, mas por termos convicção de que essa é a nossa grande missão, que é para isso que estamos nesse planeta: para sermos úteis aos nossos semelhantes
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