sábado, 11 de abril de 2009

Em defesa dos abrigos





Estive pensando sobre algumas pessoas que defendem a extinção dos abrigos. Ainda outro dia vi um conselheiro tutelar afirmar com muita convicção “nós somos contra a abrigagem.” Na hora pensei em colocar o meu ponto de vista, mas o momento não era adequado e deixei passar.

Fiquei, então, refletindo sobre a opinião desse conselheiro e de tantas outras pessoas que defendem essa tese, e me dei conta, mesmo trabalhando em um abrigo de menores, de que, em condições ideais, eu também preferiria que eles não existissem. O que eu gostaria mesmo é que todas as crianças viessem ao mundo em condições dignas, como todo e qualquer ser humano merece.

Começaria pela gestação. Que todas as mulheres tivessem a opção de planejar a gravidez, ter um bom pré-natal, fazendo todos os exames necessários e que, ao nascer, os bebês pudessem ter um pai e uma mãe a cuidá-los, amparando-os, protegendo-os e dando-lhes todo o amor de que toda criança necessita.

Gostaria, também, que todas as crianças tivessem uma moradia digna, com eletricidade e saneamento, acesso à escola (de qualidade), com atendimento médico e quatro refeições por dia, e, se não fosse pedir demais, que pudessem praticar algum esporte. Mas, voltando ao mundo real, sabemos que isso é apenas um devaneio, uma utopia.

Infelizmente, tenho visto a cada dia mais crianças nas ruas e cada vez menores. Perdoem-me o termo prosaico, mas como dizia minha avó, “meninas que não sabem lavar as suas calcinhas”, grávidas, carregando em seus ventres mais crianças para habitarem as ruas de nossa cidade, pois se elas não conseguem cuidar do seu corpo e evitar uma gravidez, como irão proteger e cuidar de outra criança?

E são os filhos dessas “meninas”, que recebemos em nossa casa: preferimos não usar a palavra abrigo e sim casa, pois nossa intenção é proporcionar condições mais próximas o possível de um lar. Estas crianças chegam magras, feias, sujas, com piolhos, ferimentos, tristes e arredias; o único toque que conhecem é o da violência.

Depois de um tempo, estas crianças (todos meninos) são outras: alegres, carinhosas, doces, bonitas, vão à escola, têm atendimento médico e psicológico, praticam esportes, têm uma alimentação de qualidade, atividades de lazer, e começam a sonhar com um mundo diferente daquele que conheciam.

Sentem falta dos pais, sim, pois apesar de tudo o que a vida lhes negou e a despeito de todo o afeto e cuidados que lhes proporcionamos, elas gostariam de ter um pai e uma mãe como as outras crianças têm. Todavia, mesmo sendo crianças, conseguem ter o entendimento de que aquele lugar é o melhor para elas, e que família verdadeira é constituída mais por laços de afeto, respeito, carinho, do que por consangüinidade.

Não posso falar pelos outros abrigos porque desconheço como se dá o trabalho na maioria deles, mas acredito que, como a equipe da nossa casa, devem estar repletos de boas intenções, querendo fazer o bem, pois acreditam e desejam uma vida melhor para as crianças sob seus cuidados.

Então, vamos deixar de ser hipócritas e defender interesses particulares ao afirmar que o melhor para a criança é ficar com a família. Como dizer isso quando se tem conhecimento de pais que violentam seus filhos, que lhes dão surras diárias? Ou quando os forçam a se prostituírem, a pedir esmolas e a muitas outras ignomínias, sabendo-se que tais atrocidades deixam seqüelas incuráveis ou, até mesmo, levam à morte? Como acreditar que esse tipo de “família” pode ser saudável para uma criança?

Devemos nos mobilizar, sim, mas para que se implementem políticas públicas (eficazes) de planejamento familiar para que, num futuro próximo, seja diminuído o número de crianças nas ruas. E enquanto isso não acontece, vamos lutar para que novos espaços de abrigagem possam ser abertos, garantindo que crianças abandonadas possam ter um crescimento físico e psicológico saudável, pois só dessa forma, com um mínimo de igualdade entre todas as crianças, vamos poder pensar em construir uma sociedade mais justa e fraterna para todos.


Jane Macedo

4 comentários:

  1. muito interessante!!!

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  2. oi o trabalho de voçês é o maxímo muito lindo adorei .meu nome é Joana de lima fernandes Hoppe . moro em Sapucaia do Sul. meu emeio é joanahoppe@gmail.com.

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  3. que lindo. muito bonito o trabalho de vcs. espro que algum dia (e q não demore mt) eu possa contribuir da minha forma também, além de contribuir na igreja.

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